Saturday, January 12, 2013

A primeira vez - Mr Lemos - blogueiro convidado

Quando nós decidimos chamar um convidado por semana para escrever no Gaiola, eu saí correndo, pulando e gritando "eu convido primeiro!!" "eu convido primeiro!!" por que tem uma lista enorme de gente boa, bonita e gostosa interessante nessa blogsfera.

Pro post dessa semana, eu escolhi o Mr Lemos, um dos blogueiros mais porreta que eu tive o prazer de conhecer. Sim, morram de inveja, eu o conheci pessoalmente numa escapadela pra Londres!

O Mr Lemos é um cara que consegue manter um blog que fala de tudo, sempre com leveza, com senso de humor e com uma profundidade que geralmente traz lágrimas pros meus olhos. O Madruga em Claro fala de gente, de sentimentos, de emoções e das coisas da vida. Fala de mim, de você e de todas as coisas do mundo, só que quando eu leio os seus textos, é como se tudo fosse novo, inusitado. O Ernani traz uma perspectiva diferente pro mundano, cor pro dia a dia e muita risada prá quem o rodeia.

Aqui no Gaiola ele é unanimidade. Todo mundo morre de paixão por ele. Espero que vocês também se apaixonem. O cara vale cada suspiro...

PS. Se eu sumir de circulação é por que a Japs ( mulher dele que eu tb amo muito, juuuro), mandou me matar!



Minha mais recente primeira vez começou muitos anos atrás, quando minha irmã do meio gerou um filho sem pai. Houve lá um sujeito que a engravidou, claro, mas o cara jamais se fez presente de forma alguma na vida da criança. Meu sobrinho ganhou o nome de André, e os sobrenomes do meu pai e da minha mãe. Eu fui escolhido para batizá-lo, só que até hoje não sei o porquê. Não sou religioso nem reponsável, e nunca levei muito a sério o simbolismo do gesto. Só aceitei pra não criar caso. De modo que o menino cresceu sem pai e sem padrinho, e com um tio distante. Nossa relação sempre foi um tanto superficial, com breves contatos durante minhas raras visitas de domingo. O André ainda era pequeno quando eu mudei de país, e a partir dalí acompanhei o desenvolvimento dele basicamente por meio dos longos e cansativos relatos das mães - da dele e da minha. Por muito tempo eu pensei que deveria dar um jeito de me aproximar, mas sempre o achei um tanto agressivo, rebelde e até mal educado. E nunca aceitei a ausência de um homem em casa como desculpa pra essas atitudes. Meus primos e eu também tivemos apenas mães por perto e sempre tentamos tirar disso o melhor proveito possível. Então secretamente eu observava meu sobrinho crescer e me preparava para dizer, se um dia o visse numa situação ruim, já adulto, que a culpa não era de mais ninguém, a não ser dele mesmo.

Se pensar em todos os que dividem o sangue comigo, tirando meus avós, não conheço ninguém, entre pais, tios, primos e irmãs, que tenha tido uma vida conjugal feliz. Não tenho traumas, mas minha base é formada por relações despedaçadas e crianças órfãs de pais vivos. A separação que mais me marcou, depois da dos meus pais, foi a da minha irmã mais velha. Ainda muito jovem, ela casou com um cara que era pra mim como um irmão ou um pai paralelo. Ele me ensinava sobre rock e carros, me levava ao estádio, emprestava revistas de mulher pelada, e era um companheiro de risadas. Foi a figura masculina mais importante que tive em casa na adolescência, por isso fiquei chocado ao vê-lo se separar da minha irmã grávida. Minha primeira sobrinha, antes de nascer, já era a mais nova vítima da nossa tradição familiar. A Isabela veio ao mundo e eu a amei imensamente desde o primeiro segundo, como a uma irmãzinha. Chegamos a morar juntos e sempre fomos muito ligados. Eventualmente o pai biológico saiu completamente de cena. Com o tempo ela ganhou outro pai - um excelente -, mas eu sempre desconfiei que isso não seria essencial. Minha irmã era forte o suficiente pra suprir sozinha todos os papéis de casa, como fizeram antes dela as outras mulheres da família.

Hoje a Isabela é uma adolescente linda que tem vergonha de falar com o tio ao telefone. O pouco que sei dela é por meio da minha irmã. O André, ao contrário da prima, finalmente deixou de ser arredio e se tornou um garoto muito sociável, uma figurinha maravilhosa com quem tenho o maior prazer de conversar. Acho que sempre estive de braços abertos, mas não consegui provar a ele antes que era seguro me abraçar. Felizmente a vida tem me dado várias chances de corrigir algumas coisas em tempo, e as maiores correções eu faço no meu próprio rascunho. Mesmo longe fisicamente, estou mais próximo do meu sobrinho. Acho uma pena não estar lá para levá-lo ao jogo ou à praia, mas tenho aprendido uma porção de outras formas de participar daqui mesmo. Quero estar presente de alguma forma e dividir o que puder. E estou secretamente me preparando para dizer a ele, quando o vir bem sucedido, já adulto, que o mérito é 100% dele. E o quanto isso me deixa orgulhoso.

Já faz doze anos que meu sobrinho nasceu. Ele só demorou  pouco mais de uma década pra cultivar em mim um sentimento que tentaram me impôr tanto tempo atrás. Ainda não desejo ser pai e não tenho certeza se um dia vou ser capaz de povoar o mundo, mas já sei como é amar alguém como a um filho. Pela primeira vez.

18 comments:

  1. Conseguem perceber agora porque a Inaie disse que aqui no gaiola todas ama ele de paixão?

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  2. Olha, amor de PAIXAO! Eh tao maravilhoso que eu sempre fico com vergonha de comentar os posts dele e falar alguma bobagem!

    Nao tenho sobrinhos, mas sou louca para tê-los e sentir o que voce sente. Filhos nao, Machado me convenceu ha muitos anos.

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  3. Ele, como sempre, me emociona. E a Ju deve ter zilhões de assassinos pra contratar, se quiser acabar com a mulherada toda que ama o hubby dela!
    Eu não conhecia essa história toda da maldição familiar, e da força das mulheres Lemos (?). Mas conheço um cara que quando resolver ser pai vai mostrar pro mundo inteiro que toda maldição pode ser quebrada!

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  4. Ah, dizer o quê? Pura emoção...

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  5. Não consigo descrever com clareza tudo o que li, visualizei nas entrelinhas e senti ao ter contato com este texto...
    O Ernani sabe 'casar' as palavras!
    Beijocas!!!

    http://www.sinaisdemimtl.blogspot.com.br/

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  6. Eu tenho duas sobrinhas. A mais velha até antes do Natal era um grude comigo. A mais nova era mais arredia.
    Um belo dia antes do Natal de 2012, a avó materna das minhas sobrinhas que mora na casa do meu irmão, fez uma desfeita imensa para minha mãe, pai e para eu também, pois estava junto. Ela foi deselegante demais.
    Fomos embora. Não sabemos o que ela disse para meu irmão e para minha cunhada que no momento do fato estava trabalhando. Só sei que minha cunhada nos ligou. Meu pai muito magoado disse que nunca havia dado motivo para a distinta senhora ter feito aquilo. Meu pai continuou o desabafo e disse que a distinta senhora não era mais bem vinda em nossa casa, assim como ela era uma hipócrita de ficar na frente do pastor dizendo aleluia e fazer aquilo. Assim como também achava mais dignas as pessoas do centro espirita que nós frequentamos do que a mãe dela.
    Resumindo: Desde então não vejo minhas sobrinhas. É tão doído.
    Desculpe, mas acabei me emocionando com esse texto e me achei ao direito ao desabafo.
    Bêjo

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  7. Ainda não tenho filhos e as vezes acho que me falta um pouco o jeito com a criançada... talvez porque eu ame a tranquilidade e criança, definitivamente, é o contrário disso. Mas teve um garotinho especial pra mim (já se vão uns 20 anos desde que ele nasceu), que me faz querer tentar criar um serzinho parecido. O problema é que filho a gente não pode demorar 10 anos pra conseguir "abraçar" né? rsrsrsrsrs Adorei o texto e seja bem vindo ao Gaiola. Aqui só tem gente "normal"... bjs

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  8. Ah mulherada, eu ainda não quero matar ninguém! (Ainda)

    O marido eu não divido de jeito nenhum, mas os textos dele tem que ser espalhados por todos os cantos do mundo. Hubby tem o poder de envolver as pessoas com as palavras e de certa forma, despertar algo bom :)

    Adorei a idéia do blog!! Parabéns :)

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  9. Pô, Inaie! Isso não se faz. Sua exagerada de uma figa!!! ;) Valeu, querida. Valeu pelas mentiras que vc contou sobre mim, pela amizade e pela oportunidade de participar desse espaço cheio de gente boa. As meninas todas aí são queridas demais. Obrigado a todas pelo carinho! Espero que a Cristina possa ver de novo os sobrinhos em breve. Beijao pra todo mundo e obrigado.

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  10. Muito bom mesmo, gostei!

    Tenho sobrinhos que tranquilamente poderiam ser meus irmãos, pois fui tio com 12 anos é interessante dizer que fui muito mais irmão deles do que os pais foram irmãos meus!
    Tenho filhos e isso não mudou... tenho espaços no meu coração para toda essa galera!

    To adorando ler as histórias daqui meninas!!

    E senhor Lemos, gostei meeesmo, vc escreve como eu gosto.

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  11. Adorei seu texto.
    Eu tenho dois sobrinhos. Um de 07 anos, atualmente está morando na SuéciaEle é um pouco na dele e por isso não somos muito próximos.O outro ainda é bebê está se mudando para Santos e eu sou a madrinha.
    Gostaria muito de me tornar um pouco mais próxima deles mas acho que não levo muito jeito com criança.

    Bjs.
    Elvira

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  12. Oi Mr. Lemos. Eu li seu post a mais tempo, mas demorei a vir aqui comentar porque me identifiquei, eu e minha irmã nos sentimos órfãs de pai vivo e de alguma forma me identifiquei com a sua história. Preciso me policiar para não extrapolar um pouco nos comentários.
    Não sei dizer se o fim do relacionamento é a prova de que ele deu errado ou foi infeliz. Acho que as pessoas que ficaram alguns anos juntas compartilhando suas vidas não podem ter sido infelizes. Nao entendo o que levaria duas pessoas a se manterem juntas em meio à infelicidade. Prefiro pensar que deu certo enquanto durou!
    Eu crescí sem o meu pai que foi embora cedo. Nem ao menos o chamo de pai, mas pelo nome. As demonstrações de afeto também são difíceis. Uns anos atrás ele voltou pra casa e eu precisei sair porque ser confrontada com as minhas mágoas tornava o convívio difícil. Hoje em dia eu já administro bem isso e estou me preparando para voltar pra casa. Moro com a minha avó desde então.
    Mas eu tenho uma sobrinhada muito fofa e sou muito presente. Adoro estar junto, levar para passeios e contar historias. Não sei se serei uma boa mãe, se saberia passar bons valores, mas acho que dar o exemplo e ser presente é importante para estreitar os laços ainda que o casamento tenha se desfeito. Não existe ex-filho né! Meu pai nao foi. Cheguei a ficar anos sem vê-lo.
    Mas o poder de mudar isso está nas nossas mãos! Você no seu casamento e seus sobrinhos podem tirar uma lição de tudo isso e mudar essa hitória de casamentos infelizes na família! Pelo visto você está fazendo bem a sua parte! Parabéns para a juju! Sente só a intimidade!
    Beijos

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  13. Oi.

    Tenho duas sobrinhas que atualmente me mostraram o que é amar: crianças. Gosto, mas nunca me aprofundei em relação...

    Depois que elas nasceram, uau.... Quero ser tia para sempre. Na realidade, eu sou a tia louca e liberta... Elas me adoram...

    Não quero ter filhos. Então, meus filhos será eternamente minhas sobrinhas e também os futuros que por aí virão.

    Beijos

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  14. Curto demais quando aparece um monte de gente bacana assim pra dividir o que sente sobre o assunto. Pelo visto, eu não sou o único na área que ainda não sabe se vai ter filhos... ;) Valeu todo mundo! Beijos e abraços

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  15. Só o nome do teu sobrinho já me fez sorrir: meu filhinho de 3 anos tb se chama André.Mesmo que vc não tenha filhos,já provou ser um "pai do coração" e conhece,com certeza, o significado da expressão "amor incondicional"...

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  16. Inaie, tudo o que você disse, apesar da pouca convivência, eu assino e reconheço firma. Também espero que a Japinha não vá perder tempo de me fazer "sumir". Ninguém chuta cachorro morto - Provérbio do Mercadão de Taubaté, rs...rs. Valeu a indicação!

    Ernani, foi tão interessante e instrutiva a sua postagem que eu imagino que o exemplo caiba para todos nós. Achei genial essa analogia:
    "as maiores correções eu faço no meu próprio rascunho".
    Isso funciona e não suja o original, não é?
    Valeu, amigo!
    Um grande abraço e recomendações à Japinha
    Manoel

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  17. Que história emocionante! Eu vim de uma família super unida, acho que o primeiro divórcio na família foi o meu rs... (isso pode dar um post rs), mas eu optei por não ter filhos justamente por isso. Cada um, cada um, mas eu sentia dentro de mim que ele não seria o pai dos meus filhos (se ainda eu tiver um não sei rs). Mas acho legal essa aproximação de tios. Eu ainda não sou tia, mas não vejo a hora!

    Kisu!

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  18. Como tudo que voce escreve é interessante!Voce ja deve estar cansado de saber disso,mas como é verdade...vou sempre repetir quantas vêzes eu puder!!!Já andei apaixonada por muitos escritores(o unico por quem me decepcionei foi o Gabeira,até em palestras dele eu me aventurava),por todos os outros continuo apaixonada.Seus textos vão se tornando mais e mais interessantes 'a medida que vão tomando forma.Emocionantes e lindos!Inté!

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