Saturday, February 16, 2013

Minha primeira perda e meu primeiro ganho - Bah - Blogueira convidada

A Bah é uma blogueira super dedicada ( tem o blog há mais de 10 anos!!) e uma figura super especial.
La no cantinho dela, ela fala de tudo um pouco, mas principalmente dela mesma, de suas experiências, de suas expectativas e das suas conquistas.
Descolada e divertida ela já morou no Japão, já se casou e descasou, já trabalhou, foi promovida, terminou o masters e pintou e bordou.
Sua nova aventura agora é morar na Europa, com o marido fofo. E todo mundo está torcendo prá ela arrumar um emprego, para parar de postar receitas de guloseimas, por que eu os leitores mais assíduos, já ganharam 3 kilos, com essa brincadeirinha!
 A Bah é fantastica, apesar dela sempre comparar o gaiola com o SUS por causa da demora das postagens de blogueiros convidados.
Bah, você pensa que tem pouco louco por ai?
 Tem não, menina! Mas finalmente hoje é dia de publicar a sua história. E eu não posso nem fazer as minhas gracinhas sem graça, por que essa primeira vez dela foi uma "m".




Faz 14 anos que perdi o João Paulo.

É de se esperar que o seu primeiro namorado seja seu primeiro e grande amor. Daqueles que você nunca vai esquecer. Mas o meu não foi assim. João Paulo não era o meu primeiro namorado e eu não fui a primeira namorada dele. Na verdade, eu ainda estava despedaçada por causa do rompimento com meu primeiro namorado, aquele que eu achei que era meu grande amor. Aquele que dura anos e ao final da nossa “linda” história de amor, ele me troca pela minha melhor amiga. Aquela “amiga” do casal, que sempre está junto, que conhece ele tanto quanto eu.

Achei que nunca fosse me curar. Claro, quando a gente se sente miserável por causa de um amor perdido a gente acha que nunca mais vai se levantar, não seremos mais capazes de sorrir ou de ver o sol brilhando novamente.

Num desses dias, onde nem as músicas do “Só pra contrariar” (exemplificando as músicas de fossa da época) poderiam retratar fielmente as mazelas do meu coração é que, sentada num bar do interior de São Paulo com alguns “perdidos” aos quais chamava de amigos de saideira, lágrimas ensaiavam no meu rosto. Com vergonha por chorar com uma música brega de fundo, vou ao banheiro dar uns tapas na minha cara pra ver se eu crio vergonha de me deixar ficar naquela situação. Adentra ao recinto uma jovem, toda descolada, simpática. Se apresenta e logo se sente a minha melhor amiga. Não tenha dúvidas, Simone era uma pessoa super simpática, daquelas que todo mundo quer ter como amiga. Imediatamente ela me chama para sentar na mesa com os amigos dela. A essa altura, meus “amigos” queriam ir embora para São Paulo e ela me oferece um canto na casa dela pra passar a noite.

“Não sou lésbica”- eu disse. Ela riu, gargalhou da minha cara, chorando, mijando de rir. E eu parada, que nem uma palhaça, esperando o show terminar. Nunca uma música do “Só pra contrariar” fez tanto jus à condição de miséria que me encontrava. Ela amavelmente disse que percebeu que eu estava triste e sabia que os amigos dela me fariam rir. E ela tinha razão. Eu, japa, estudante de comunicação na época, precisava me enturmar, me fazer comunicar, já que eu era travada. E me diverti como nunca. Descobri que eu não era sem-graça, mas como qualquer capricorniano, não sei fazer piada engraçada. Aprendam: o que faz um capricorniano ser engraçado é a facilidade que ele tem de usar o humor negro.

Lá pelas tantas, reparei que ele me olhou de um jeito terno, interessado. Tentei não dar bola. Talvez ele estivesse pensando: “De onde diabos surgiu essa daí?”. Amizades feitas, quase todos os finais de semana eu passava indo para Piracicaba. João Paulo era um rapaz simples, trabalhava na colheita ajudando os pais, era da roça. Ele, noivo há trocentos anos da vizinha, prestes a se casar, se viu apaixonado por mim. E o meu sol voltou a brilhar. Queria fazer tudo “certo”, só ficaria com ele se ele não estivesse mais noivo e não era certo fazer isso com um membro do grupo. Ele topou. Terminou o noivado, devolveram todos os presentes, ele se mudou para Rio Claro, dividindo uma casa pequena com um dos colegas do grupo, que era namorado da Simone. E os dias passaram assim, programas de casais, felicidade no ar.

Em um final de semana fomos à uma quermesse no centro da cidade e, parando de frente à uma barraquinha, vi um vaso todo decorado, lindo. Só que custava um pouco mais do que eu tinha no bolso. Ele viu minha frustração e disse que se tivesse recebido naquela semana me daria de presente. Obviamente me senti mal, era filhinha-de-papai, tinha mais condições que ele, me deu um aperto ele gastar comigo. Ficava pensando como a ex-noiva ficava com ele, já que ela aparentava gostar do luxo e ele estava mais para o “lixo”.

Foi quando numa manhã tranquila na faculdade, meu pager (quem lembra disso?) bipou. Era a Simone, pedindo para que eu ligasse urgente para ela. Ela tinha essa mania, tudo era urgente, só pra dizer que estava com saudades. Liguei e não lembro de quase nada, porque meus pensamentos foram interrompidos por: “João.. acidente... sinto muito... (choro)”.

João Paulo queria fazer uma visita surpresa pra mim em São Paulo. No trajeto, um caminhoneiro bêbado tentou uma ultrapassagem e atingiu seu carro. O carro capotou diversas vezes, soltando uma barra de aço de sua pick-up e atravessou seu corpo. Morte instantânea. Peritos que estavam no local devolveram à família o que estava dentro do carro. Entre os pertences, aquele vaso da quermesse, intacto. No velório, muita comoção. Saí cedo de São Paulo, cheguei e fui direto para o lado do caixão, que estava lacrado, para “vê-lo” pela última vez. A ex-noiva entra, me reconhece e começa o barraco. Pula em cima de mim, me agredindo, socando meu estômago, batendo na minha cara, me responsabilizando pela morte dele, afinal, ele estava indo me ver. Tento revidar, mas prefiro apanhar de graça, nenhuma dor física é maior do que aquela que estava sentindo.

A mãe dele, indignada, expulsa as duas do velório: “João era filho único, respeitem a minha dor e da família”. Retiradas da sala, ela vai para um canto e eu vou para outro, com Simone, que escolhe aquela hora pra me revelar que João Paulo era filho único de uma família podre de rica. Que ele odiava ostentar e que pediu para ninguém me falar nada, porque ele estava realmente gostando de mim e queria que eu gostasse dele pelo o que ele é e não pelo o que ele tinha. Ele realmente trabalhava na roça, porque queria. Ele não queria casar, queria uma companheira que estivesse ao seu lado nas viagens que ele queria fazer, que comentasse os livros que ele adorava ler, queria palpite nas comidinhas que ele inventava, sem obrigação, sem regras da sociedade.

Faz 14 anos que perdi o João Paulo, mas ganhei tantas coisas que ele me ensinou, e a melhor delas, (a que carrego comigo) é sempre acreditar que por mais que você esteja triste, o sol sempre volta a brilhar.

39 comments:

  1. Bah e meninas da gaiola,
    Somos todas uma colcha de retalhos de lembranças engraçadas, bonitas, fracassadas e tristes. Obrigada por compartilhar com a gente um pouco das loucuras e tristezas de vocês.

    Sua história é linda Bah.. =,)

    Um beijo

    ReplyDelete
  2. Post dedicado no meu blog... agora relendo, me doeu o coração... :(

    Kisu!

    ReplyDelete
  3. Aiiii meu Deussss!!!!!
    Fiquei meio sem ação agora... Não posso nem imaginar como foi sua dor e o desespero de perder alguém dessa forma!
    Há quase um ano tive a noticia que um ex namorado (da época da faculdade) morreu de câncer. Mesmo não tendo mais contato com ele há uns 6 anos, a notícia me deixou muito chocada. Muito mesmo. Por isso que disse que não consigo nem imaginar a sua dor e seu desespero.
    Ainda hoje as vezes me pego pensando que ele está morto. Isso é muito estranho!

    Bjokssssssssss

    ReplyDelete
    Replies
    1. Não foi fácil, mas ainda bem que superado. Mas hoje, não tenho contato com mais ninguém daquela época. Too painful... :(

      Kisu!

      Delete
  4. Bah, me emocionei!!! Caraca! Estou sem palavras!!!

    ReplyDelete
    Replies
    1. Triste, né? Poderia ter pego mais leve rs.

      Kisu!

      Delete
  5. Que lindo o João Paulo!Com certeza ele viverá para sempre através da sua lembrança. E sua história me fêz relembrar Maribel,minha amiga que há dois meses foi embora...pra onde? Ninguém sabe...mas as saudades e as lembranças continuam vivas em mim.Tenha um lindo findi! Bjs. Inté!

    ReplyDelete
    Replies
    1. Sim, ele está nas minhas recordações, em algumas coisas que faço. No começo, eu sentia o perfume dele de vez em quando. Sei lá, parecia que ele estava do meu lado. Mas hoje em dia, não sinto mais nada. Acho que ele descansou mesmo. Espero que num lugar merecido.

      Kisu!

      Delete
  6. *suspiro*
    Não posso nem imaginar a dor, mas gostei do final. O sol sempre volta a brilhar. ;)

    Beijo!

    ReplyDelete
    Replies
    1. Sempre volta. Esse é o lema. Por mais que vc fique triste, nada como um dia seguinte.

      Kisu!

      Delete
  7. Li várias vezes esse post, sem nunca saber o que dizer. Acho que "Sua história é linda, Bah." resume bem.
    Beijos

    ReplyDelete
    Replies
    1. Obrigada, não foi fácil aquela época, mas acho que vai servir de lição à alguém. Que a vida é muito curta para não aproveitarmos.

      Kisu!

      Delete
  8. Historia "lindamente triste". Daquelas que cessam nossas palavras e abrem nossa mente! Muito obrigada por compartilhar! Bjsss

    ReplyDelete
  9. Caramba... que historia.... nossa... (+ interjeições)

    ReplyDelete
    Replies
    1. É meu caro, a vida é muito pequena pra tanta coisa que eu passei auhauahua

      Kisu!

      Delete
  10. Nossa, fiquei ate emocionada. Eu nunca esqueceria essa pessoa, iria sempre ficar imaginando como seria a vida hj com ele. Triste :(

    bjs
    @RaCk__
    http://rackneves.blogspot.com.br/

    ReplyDelete
    Replies
    1. Eu nunca esqueci do João, mas consegui deixar que somente as coisas boas ficassem comigo.

      Kisu!

      Delete
  11. Caramba, parece roteiro de novela

    ReplyDelete
  12. Muito triste essa história!! Mas será que se ele tivesse ficado com a noiva ele teria falecido? E se....

    ReplyDelete
    Replies
    1. Não sei te dizer, já me fiz essa pergunta tantas vezes. Passei anos me culpando pelo o que aconteceu e cheguei a conclusão de que as pessoas entram e saem da sua vida por algum motivo. Eu achei o motivo dele estar na minha. Mas por que ele teria saído da vida dela? São tantas perguntas...

      Kisu!

      Delete
    2. Bah, esse tipo de especulação não leva a gente a lugar algum. É pura perda de tempo!
      Todos os dias corremos riscos! Talvez, ele tivesse morrido mais cedo, ou levado uma vida infeliz, ou milhões de coisas!
      pergunta mais idiota!

      Delete
  13. Replies
    1. É... não foi fácil compartilhar isso porque as lembranças me doeram um pouco, mas acho que foi na hora certa. Talvez sirva de exemplo para alguém...

      Kisu!

      Delete
  14. Tão certo que 2 + 2 são 4. é também dos relacionamentos amorosos que estão destinados ao fracasso com o passar do tempo, de uma forma ou de outra.

    A vida continua, ao menos, tenta...

    ReplyDelete
  15. Romina, minha fofolete.
    Eu não tive condições de comentar aqui quando foi postado porque esse post me emocionou.
    Te conheço há tantos anos, né! A gente pensa que sabe tudo da pessoa, ou o suficiente... E eu jamais fiz idéia de que você já passou por isso!
    Que dor! Deve ter sido difícil superar isso e continuar com a vida. Não consigo nem imaginar a família então!
    Um beijo!

    ReplyDelete
  16. Um tanto fantasiosa essa história...parece ate que ela se gaba por ele ter ficado com ela e de tudo q ele tinha. blah

    ReplyDelete
    Replies
    1. Eu acho que você é um otário e não sabe ler um texto! Como esse blog é democrático, você pode vir e dar sua opinião e eu posso vir também e dar a minha!
      Da próxima vez não assine como Anonymous, bota sua carinha linda ai pra gente ver quem você é.

      Delete
    2. Querido anonimo, bem se vê que você leu o post com... a perna. E que você não conhece a menina. mas tá valendo. cada um tem a sua opinião, né? E opinião que vai causar reboliço fica sempre amis segura no anonimato.
      Eu gosto de gente que se expõe, que assume o que está escrevendo. Como a Bah. Não como você, obvio.
      Não tem como respeitar a opinião de um anonimo.
      Volte sempre! Ou não...

      Delete
    3. Bom sr. ou sra. anônimo (a), primeiro obrigada por perder alguns minutos lendo a minha história. Segundo, não sei até onde vc sabe o que significa interpretação de texto, mas vou te ajudar. De todo o contexto vc conseguiu pegar apenas o que deve interessar aos seus olhos: dinheiro. Se vc reler o texto, vai ver que mencionei que eu não sabia q ele era rico até ele estar sendo VELADO. Isso significa que ele morreu sem eu ter ideia sequer de que ele tinha algum dinheiro.

      Mas vc tem razão, eu me gabo sim. Me gabo por ter tido a oportunidade de conhecer uma pessoa que mudou muitas coisas na minha vida e por ter força e coragem para depois de tantos anos conseguir escrever de uma forma razoavelmente bonita e poética para o mundo porque acho que ele merece isso, onde quer que ele esteja.

      Assim a vida segue. Espero de coração que vc tenha uma vida feliz.

      Delete
  17. Ela inventou tudo isso só pra emocionar tudo mundo aqui no gaiola e ficar como coitadinha... CERTEZA! ;)

    ReplyDelete
  18. A única certeza que eu tenho é que na internet tem um monte de gente recalcada, de filhos da puta que usam o anonimato para agir covardemente!
    Vai trabalhar vai sua desocupada! Em vez de ficar fuçando a vida dos outros!
    EU SEI QUEM É VOCÊ SUA INFELIZ!!!!

    ReplyDelete
  19. Ahhhhhhhhhhhhhhhh que história mais linda!!!

    É maravilhoso termos histórias pra contar - e poder contá-las!

    A fossa que vivi com o final do meu primeiro namoro também foi regada à músicas do SPC, quando vc citou a banda, meus pensamentos correram de volta àquela época, àquele momento. Bom relembrar!

    Bjinhos

    ReplyDelete
    Replies
    1. Hoje eu odeio essa banda uahuahaua só me traz lembranças ruins rs

      Kisu!

      Delete
  20. Nossa. Comovida. Sem palavras.

    Beijos

    ReplyDelete